Transformando lixo em energia: o papel da reciclagem química

O Brasil recicla menos de 10% do lixo que produz, mas novas tecnologias, como a pirólise, estão transformando rejeitos plásticos em energia e insumos industriais, mostrando que o futuro da reciclagem pode ser também o futuro da energia limpa.

10/9/20252 min read

O Brasil gera mais de 77 milhões de toneladas de lixo urbano por ano, mas recicla apenas 8,3% desse total. O restante acaba em aterros ou até mesmo descartado de forma irregular, poluindo solos, rios e mares.

Na Lapa - PR, uma empresa de reciclados recebe por mês cerca de 32 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos. Do total, metade pode ser reciclada como garrafas PET, papelão e vidro, mas a outra metade vira rejeito, ou seja, materiais que não encontram destino como isopor e plásticos do tipo BOPP (embalagens de salgadinhos e rótulos)

Esses plásticos são um grande desafio porque:

  • Demoram mais de 100 anos para se decompor.

  • São leves, espalham-se facilmente e poluem rios e oceanos.

  • Muitos têm camadas ou aditivos que dificultam a reciclagem.

A solução que vem ganhando força é a reciclagem química por pirólise, um processo que transforma plásticos em combustíveis e insumos para a indústria química por meio de aquecimento controlado. Esse método não só reduz em até 90% o volume de resíduos enviados a aterros, mas também gera subprodutos como bio-óleo, gases combustíveis e carvão, que podem substituir combustíveis fósseis tradicionais e alimentar cadeias produtivas com insumos de alto valor agregado. Na prática, esse tipo de tecnologia seria capaz de dar destino adequado a rejeitos que hoje não encontram aproveitamento, como filmes plásticos, isopor e embalagens multicamadas, transformando-os em energia e recursos químicos.

No caso da empresa localizada na Lapa – PR, que recebe cerca de 31,8 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos por mês, dos quais quase 16,8 mil toneladas acabam como rejeito, a adoção de tecnologias como a pirólise poderia representar uma virada estratégica. Além de reduzir a pressão sobre aterros e lixões, o aproveitamento energético desses materiais contribuiria para a economia circular, diminuindo custos industriais, diversificando a matriz energética e ampliando a vida útil dos aterros da região. O futuro da reciclagem, portanto, depende da combinação entre os métodos tradicionais – responsáveis pelo processamento de materiais como PET, vidro e papelão – e essas novas rotas tecnológicas, apoiadas por políticas públicas, incentivos à inovação e programas de logística reversa eficazes. Essa integração é o que permitirá transformar um problema ambiental crescente em fonte de valor econômico e energético sustentável.