Como o biodiesel está transformando a matriz energética brasileira

Na Lapa-PR, a produção de biodiesel evita 405 milhões de quilos de CO₂ por ano. Subprodutos como glicerina já são reaproveitados, e a empresa busca soluções para transformar resíduos de sal e glicerol, avançando na sustentabilidade e economia circular.

10/9/20252 min read

O biodiesel é um combustível renovável que pode ser produzido a partir de óleos vegetais, gorduras animais e até mesmo óleo de fritura usado. Ele substitui o diesel comum de caminhões, ônibus e máquinas, ajudando a reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

Estudos mostram que uma mistura chamada B20 (20% biodiesel + 80% de diesel comum) pode diminuir em até 20% as emissões de gases do efeito estufa que destroem o nosso planeta e nossa saúde e até 60%da poluição do ar.

Na Lapa são produzidos 750 milhões de litros de biodiesel por ano. Se esse mesmo volume fosse de diesel comum, seriam emitidos cerca de 2 bilhões de quilos de CO2 na atmosfera. Como o biodiesel emite em média 20% menos gases, isso significa que 405 milhões de quilos de CO2 deixam de ser jogados no ar todos os anos.

Pode parecer pouco quando olhamos apenas a comparação com o diesel comum, mas o impacto é enorme. Segundo o Ministério dos Transportes do Brasil, o município da Lapa-PR tinha cerca de 34 mil veículos em circulação em 2024. A redução de CO2 alcançada com o biodiesel equivale a 87 mil carros a menos nas ruas em um ano, ou seja, três vezes toda a frota de veículos da Lapa.

Porém, junto com o combustível, surgem desafios como a empresa gera cerca de 2.520 toneladas de resíduos de sal anualmente, além de uma grande quantidade de glicerina. O lado bom é que a empresa já transforma parte dos subprodutos em glicerina refinada, usada em cosméticos, medicamentos e alimentos, e até em vitamina E, de alto valor no mercado. O desafio agora é encontrar novas formas de aproveitar o sal residual, que mesmo já sendo inserido em alguns processos da produção de biodiesel, ainda é produzido em uma quantidade abundante diminuindo as alternativas da empresa, assim como o excesso de glicerol, cumprindo com esses desafios estaremos fechando ainda mais o ciclo sustentável da produção.

Apesar de o biodiesel já constituir um tema amplamente debatido na literatura científica, com cerca de 70 mil publicações apenas na base ScienceDirect, observa-se ainda uma lacuna relevante no que diz respeito aos resíduos gerados em sua cadeia produtiva, que somam pouco mais de 50 artigos na mesma base. Essa discrepância evidencia que, embora os estudos sobre a produção e aplicação do biodiesel tenham avançado de forma significativa, o manejo e a valorização de seus subprodutos como glicerina bruta, efluentes e resíduos sólidos permanecem pouco explorados. Nesse contexto, abre-se um campo fértil para investigações voltadas à economia circular e à sustentabilidade, nas quais o aproveitamento desses resíduos pode não apenas reduzir impactos ambientais, mas também agregar valor econômico e tecnológico à cadeia do biodiesel, consolidando-o como uma alternativa energética ainda mais limpa e eficiente.